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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ícones do rock gótico regressam da tumba

Ícones do rock gótico regressam da tumba
Vestem a negro integral, cabelo pintado de preto se não for de origem. Maquilhagem às vezes. Roupas longas, adornos de metal, botas quase sempre. Sandálias, nunca! Gostam de candelabros, de filmes de Tod Browning, Murnau, Jacques Tourneur ou Tim Burton. Lêem Edgar Allan Poe ou, em registo mais "ligeiro", Anne Rice. Cultivam histórias de morte, de castelos, de vampiros. Mas, por detrás de uma aparência que assusta apenas os que desconhecem o seu meio, são pacatos amantes das artes, com as aspirações de qualquer sonho de classe média e profissões preferencialmente encontradas em terrenos criativos. Chamam-lhes góticos, termo nascido de uma derivação específica do pós-punk britânico em finais de 70. E são uma das tribos mais completas e resistentes que a cultura popular de 80 deu ao mundo.
Em finais de 90, a cultura gótica esteve nas bocas do mundo pelos piores motivos, quando a imprensa moralista americana escolheu Marilyn Manson e as suas temáticas (algumas de afinidade com o ideário gótico) como bode expiatório para justificar os massacres de Columbine, nos EUA. Mas Manson não é, nem foi nunca, um ícone gótico. E o movimento que nasceu da música "negra" que se ouvia em 1979/80 não padece de disfuncionalidades sociais nem de qualquer sede de rebeldia violenta. Acontece que as roupas negras e a música soturna assustam os pais. E, como tantas outras vezes na história, a ignorância cria equívocos.
Nas caves 'pós-punk'
Em finais dos anos 70, o produtor Martin Hannett descreveu a música da Joy Division como "música para dançar, com tónicas góticas". O termo começou a ser usado com alguma ironia em textos na imprensa musical, e em pouco tempo era rótulo aplicado a algumas bandas que mostravam um imaginário sombrio, dos Bauhaus a Siouxsie & The Banshees e, por afinidade estética, Joy Division e The Cure. Recuperavam imagens da literatura romântica, traços da filosofia existencialista e marcas de niilismo. O seu som era introspectivo e pessoal (o que não é sinónimo de plácido). E, na hora de identificar referências históricas, surgiam entre os mais citados nomes como os dos Velvet Undreground, T-Rex, os Doors (particularmente o álbum Strange Days), Stooges e, acima de todos, David Bowie (cujo álbum de 1974 DiamondDogs traçava as bases de uma distopia urbana que antecipava ambientes que mais tarde serviram de paisagem a muita inspiração gótica).
Em 1982 a Batcave, no Soho, começou a organizar noites alternativas ao som neo-romântico então dominante. A ideia rapidamente disseminou-se por Liverpool, Leicester e Manchester. E alguns meses depois chegava Nova Iorque. Em 1983, o que três anos antes era apenas um nome útil para arrumação de novidades nos escaparates das discotecas era já um movimento com legiões de bandas (nem todas confortáveis com o rótulo "gótico") e ainda mais fãs. Surgem nomes como os Danse Society, Sisters Of Mercy (ver caixa), The Mission, Clan Of Xymox, Alien Sex Friend, Fields Of The Nephilim, entre muitos mais. O negro dominou a música alternativa de 80, mas com os 90 à vista, a onda perdeu força e voltou ao underground...
Regressos e herdeiros
O fenómeno gótico nasceu na Inglaterra, mas sobreviveu e renasceu na América e Escandinávia, onde nos anos 90 surgiram subprodutos como HIM ou Evanescence. A nova vitalidade do género deve-se a cultos alimentados durante anos por editoras como a Cleopatra Records e a exumações de bandas dadas como extintas, caso dos icónicos Bauhaus e, agora, Sisters Of Mercy.

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