Páginas

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Que é Gótico ?

A Cultura Gótica (também chamada "Dark" no início dos anos oitenta no Brasil) abrange um estilo de vida e música descendentes do Punk inglês do fim dos anos setenta, e tem como principal marca o cultivo de um modo melancólico e sombrio de vestimenta, comportamento e análise do mundo.

Foi tachada de "movimento cultural" devido ao princípio ideológico que tal visão e comportamento são um protesto acerca do modo solar da cultura atual, isto é, alienação que afirma uma evolução e liberdade que em verdade são insuficientes, e contra a qual o luto deve ser usado como denúncia. Apesar de simplista, esta explicação define o pensamento ideal da maioria dos que afirmam pertencer a este grupo.

O gótico como forma de vida tem como principal marco inauguratório o suicídio de Ian Curtis, vocalista do Joy Division. A poesia de Augusto dos Anjos e os contos de Edgar Allan Poe são exemplos da arte ideal dos membros do grupo, e a música de bandas como The Banshees, This Ascension, The Jesus & Mary Chain e October Project embalam as festas, hoje muito mais próximas do mundo do Heavy Metal que do Punk que lhe deu origem.

Por semelhança com o estilo arquitetônico de onde o nome foi tirado, os góticos recebem regularmente adjetivos que os caracterizam como um grupo espiritualmente ligado. A religião individual independe do gosto musical e estilístico, mas é fato que há entre os góticos proporção maior que na população em geral de religiões que contradigam a religiosidade de massa. Ainda assim, não é possível afirmar que há uma religião predominante.

Há ainda uma significativa parcela que liga-se a jogos de RPG com temáticas ocultistas ou fantásticas, e assim como a estilos medievalistas e românticos de vestuário.Góticos: opções estéticas e definições

Em primeiro lugar vamos as definições começando pelo sentido etimológico e histórico da palavra.

O termo gótico têm sua origem ligado a um estilo de arte medieval presente entre os séculos XIII e XIV que sucedeu ao estilo românico (séculos XI e XII) fazendo-lhe oposição. Sua presença é marcante no que se refere principalmente a arquitetura, sendo famosas as catedrais que seguiram o seu padrão arquitetural como Notre-Dame de Paris, Chartres e Reims (para saber mais sobre arte gótica clique aqui ).

O aparecimento do termo gótico entretanto encontra-se alguns anos a frente dessas construções medievais. Durantes os séculos em que foi moderna, a arte gótica era conhecida sob o nome de "opus francigenarum", o que significa "obra francesa" e indica bem a sua principal origem. Entretanto nos séculos XV e XVI com a Renascença e o entusiasmo pela antiguidade clássica, passou-se a considerar a Idade Média como uma época bárbara e obscura. Como os godos eram os bárbaros mais conhecidos, o estilo passou a se chamar gótico, ou seja, bárbaro por excelência, alcançando um sentido pejorativo e de profundo desprezo.


O Romantismo e o resgate da estética medieval.

"É que cada um tem uma idéia própria , geralmente deturpada, da Idade Média. Só nós monges daquela época sabemos a verdade, mas, ao dizê-la podemos ser queimados vivos". Umberto Eco


O movimento romântico que se fez presente no século XIX procurará romper com os valores do classismo que assim como o renascimento exaltava os valores estéticos da antiguidade clássica e o racionalismo. Ao afrontar esses padrões o romantismo faz uma espécie de "reabilitação" da Idade Média e do seu imaginário.Muitas obras românticas como por exemplo "Notre-Dame de Paris"de Vitor Hugo têm como cenário a Idade Média. Entretanto a visão dos românticos era extremamente idealizada.

São ainda os românticos os responsáveis pelo surgimento do "gothic novel" ou "romam noir", normalmente ambientados em castelos sombrios e ambientes tenebrosos. O castelo de Otranto lançado em 1764 por Walpole é um celebre exemplo disso.A Gothic Novel utiliza o passado como cenografia, pretexto para a construção fabulística, para dar livre curso a imaginação.Walpole pode ser cosiderado o criador e precursor do "gothic novel", seu romance foi inovador rompendo com os padrões literários então vigentes, criando uma atmosfera repleta de personagens inverossímeis, terrores sobrenaturais e castelos arruinados. O estilo fez um tremendo sucesso, sendo copiado por vários autores, indo muito além do romantismo nas formas do conto fantástico, conto de terror e até a ficção científica.

O "verme"romântico nasce ainda sob os trajes do "herético" do "anjo caído" , é o "maldito" por excelência, e isso não podemos perder de vista. Sob esta ótica o romantismo é ainda a reabilitação do mal, onde o mal se transforma em discurso noir, discurso de desconstrução moral que se perpetuará no século XX através do Dadaísmo e do Surrealismo.

É no romantismo literário que se torna mais aparente e mais facilmente acessível para nós esse esforço sincrético para reintegrar no Bem o Mal e as trevas, herdando toda a dramatização da literatura bíblica e da iconografia medieval. Satã faz sua entrada triunfal como o Mefistófeles de Goethe, sendo o herói byroniano do Mistério de Caim. Faz-se a celebração da noite obscura, que passa a ser o lugar previlegiado da celebração dionisíaca tão presente na obra de Novalis ( Hinos à Noite). Acompanhando o resgate dos valores noturnos temos o pessimismo, a loucura, os sonhos, as sombras, a decomposição,a queda, a atração pelo abismo, a morte e a urgência pela vida.

Esta inversão de valores é facilmente reconhecida nas obras de Vitor Hugo como Le Fin de Satan e a já citada Notre-Dame de Paris, onde a maldade e a feiúra tornam-se em ideal.

O herói romântico traduz-se nas figuras do dândi e do libertino, imortalizados em vida e obra por Wilde, Byron e Sade.

O romantismo abre espaço para o terror diabólico e ancestral nas obras de Poe, Le Fanu e Bram Stocker, surgindo da obra destes dois últimos a figura nefasta do vampiro, o amante imortal.

No "dark side" do romantismo portanto, encontramos praticamente todos os elementos estéticos que tanto deliciam os góticos até os dias de hoje...Além da sua origem através da gothic novel.

Amor aos vermes

Claro que não é apenas no romantismo que os atuais góticos se nutrem, mas é na "escola de morrer cedo" que encontramos as suas referências mais preciosas, além da origem da atual acepção do termo.

Todos os "vermes" na verdade tem a sua contribuição a dar, seja um "Bosch" entre a Idade Média e a renascença, um "Byron"romântico, um "Dali"surrealista, a degenerescência de um Fritz Lang, ou o cinismo caústico de um Wilde, pois onde quer que surja uma sociedade ordenada e racional, lá surgirá o "verme delirante", receba ele o nome que for. E talvez seja este o princípio estético dos góticos, o amor aos "vermes", não importa a linguagem ou escola artística.

Nenhum comentário:

Postar um comentário