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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Literatura Gótica

Literatura Gótica


  Contrapondo-se aos valores racionalistas e materialistas da sociedade burguesa, certos escritores do Romantismo criam uma literatura fantasiosa, identificada com um universo de satanismo, mistério, morte, sonho, loucura, e degradação. Trata-se da literatura de tradição gótica, conhecida também como maldita, que até hoje encontra adeptos na literatura, na música e no cinema. Note que a literatura de Tradição Gótica não é uma classificação literária independente, mas sim uma vertente do romantismo. O termo "gótico" foi roubado da arquitetura. Designa um estilo de construção muito elaborado, imponente e algo sombrio, que predominou durante a Idade Média. Ocorre que as primeiras obras do gênero tinham como cenários castelos medievais - e daí, foi um passo para surgir a expressão romance gótico. Curiosamente, a literatura gótica surgiu no século XVIII - o chamado "século das luzes". Talvez fosse uma reação ao racionalismo que então predominava na literatura e na filosofia. Considera-se que o fundador do gênero foi o inglês Horace Walpole (1717-1797), com O Castelo de Otranto, publicado em 1764. Já temos nessa obra o cenário por excelência do gótico, que ainda aparece, com algumas variações, em muitos filmes de terror de hoje: O castelo com passagens secretas, quadros que se movem,corredores longos e labirínticos, ruídos inexplicáveis. Parece que Walpole levava a sério: mandou construir para si mesmo um castelo em estilo medieval. Depois de Walpole, surgiram autores como William Beckford (1760-1844), Ann Radcliffe (1764-1823) e Gregory Lewis (1775-1818), autor de um escandaloso best-seller, O monge (1796). Essa moda do romance gótico foi breve, e hoje os primeiros representantes do gênero já não são muito lidos.

Sua influência sobre o século seguinte, porém daria frutos variados e bizarros. Mary Shelley (1797-1851) criou Frankenstein, livro que alcançou uma "imortalidade inexplicável". Outro grande personagem das histórias de terror ganharia sua versão definitiva em 1897, com Drácula, de Bram Stoker (1847-1912). Na Alemanha, E.T.A. Hoffmann (1776-1822), autor de novelas e contos como O homem de Areia, conseguiu elevar artisticamente o "elemento fantástico" do gótico. E, nos Estados Unidos, surgiria talvez o maior de todos os escritores de contos fantásticos: Edgar Allan Poe (1809-1849), autor de clássicos como O gato preto e William Wilson. Também há elementos góticos em O morro dos ventos uivantes, desvairada história romântica da inglesa Emily Brontë (1818-1848), e em Jane Eyre, da irmã de Emily, Charlotte Brontë (1816-1855).A tradição gótica vai longe. Já no século XX, temos autores como o arrepiante norte-americano H.P. Lovecraft (1890-1937). O cinema aproveitou os motivos góticos e os transformou em clichês cada vez mais difíceis de suportar. Autores de best-sellers, como Anne Rice e Stephen King, faturam muito repetindo esses mesmos clichês.



Tradição Gótica no Brasil

A tradição literária gótica é representada pela prosa de Álvares de Azevedo, por parte de sua poesia (a face Caliban) e por algumas contribuições de Bernardo Guimarães e Junqueira Freire.

Essa produção representa uma ruptura não apenas com os padrões literários vigentes, estabelecidos pela primeira geração romântica, mas também com os próprios valores da sociedade. Trata-se, em suma de uma literatura que afronta o racionalismo e o materialismo burguês e opta por zonas escuras e antilógicas do subconsciente, onde de fundem instintos de vida e de morte, libido e terror.
A literatura gótica sempre teve um caráter marginal, de acordo com o sentimento de marginalidade experimentado pelos escritores ultra-românticos que deram origem a ela em nosso país. No Brasil, tiveram ligações com essa tendência os simbolistas Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães e o pré-modernista Augusto dos Anjos.




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