Introdução sobre O Retrato de Dorian Gray
Numa época de desencanto, um jovem e belo aristocrata inglês teve seu retrato pintado por um amigo artista. Ao olhar a perfeição da figura ali retratada, ele se deu conta pela primeira vez da sua extraordinária beleza.
Ao mesmo tempo, percebeu também que o tempo seria implacável e que,
em alguns anos, o que era belo se tornaria decrépito. Mas, a pintura imortalizou aquele momento e o que ele não faria para que, em vez de seu corpo, fosse aquela imagem no quadro que envelhecesse e recebesse todas as mazelas que a vida lhe tinha reservado.
Ele estabeleceu, então, uma estranha relação com seu retrato e num pacto que remete ao “Fausto”,
de Goethe, trocou sua alma pela beleza eterna.
Esse jovem chamava-se Dorian Gray.
Divulgação / Momentum Pictures |
Dorian Gray: jovem aristocrático cuja consciência da beleza física ao vê-la retratada em um quadro e a tentação de mantê-la eternamente acabam por corrompê-lo. Sob a influência de Lorde Wotton passa a perseguir todos os prazeres possíveis não importando se são imorais ou sórdidos. Basil Hallward: artista plástico que torna-se amigo de Dorian ao conhecê-lo numa festa. Obcecado pela bela figura do jovem aristocrata o acaba retratando num quadro que torna-se sua obra-prima. Lorde Henry Wotton: aristocrata amigo de Basil, é um ferino crítico da hipocrisia e do moralismo da era vitoriana. Ao conhecer Dorian o seduz com sua visão de mundo cínica e hedonista. Sibyl Vane: atriz jovem e talentosa por quem Dorian se apaixona. Sua condição econômica é precária e sua paixão pelo jovem aristocrata acaba comprometendo sua performance nos palcos. |
A obra mostra a inquietação de Wilde em relação à hipocrisia da era vitoriana na Inglaterra. Uma época marcada pela prosperidade econômica e pelas péssimas condições de vida para boa parte dos trabalhadores, que tinha o puritanismo convivendo com uma ampla tolerância à prostituição, que assistia à inovação artística vinda de obras como “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, ao lado do sucesso popular de shows sobre fenômenos paranormais. No ensaio “Oscar Wilde: o esteta e o mascaramento do corpo”, Stella Maria Ferreira mostra que, no desenrolar da narrativa sobre Dorian Gray, o escritor faz a inversão de todos os valores abraçados pela sociedade da época.
Divulgação / Momentum Pictures Cena de "Dorian Gray", dirigido por Oliver Parker, com Colin Firth (à esquerda) como Lorde Wotton e Ben Barnes como Dorian Gray |
“O Retrato de Dorian Gray” foi publicado em 1891. Na obra ficam evidentes as influências do romance gótico e das ideias do decadentismo. O pacto fáustico de Gray em busca da eterna aparência de beleza e juventude, seu processo de auto-destruição e passagens homoeróticas retratadas no livro alimentaram várias críticas na época que o acusaram de ser “imoral”. Wilde respondeu a elas defendendo a amoralidade da arte. No prefácio do livro, Wilde expõe sua filosofia. Em suma, para ele, o propósito da arte é não ter propósito, uma declarada afronta à mentalidade vitoriana que pensava a arte como instrumento de educação social e de “elevação moral”. A influência de “O Retrato de Dorian Gray”, com sua temática da supremacia da juventude e da beleza e da superficialidade da sociedade, tem alcançado várias linguagens artísticas, do cinema à música pop, desde o seu lançamento.
“O Retrato de Dorian Gray” já ganhou várias adaptações para o cinema. Em 2009 estréia na Europa a versão com direção de Oliver Parker (“Eu Realmente Odeio Meu Trabalho”, “A Importância de Ser Honesto”), um diretor especializado nas adaptações das obras de Oscar Wilde para as telonas. O filme traz Ben Barnes (“As Crônicas de Nárnia”, “Stardust”) no papel de Dorian Gray, Colin Firth como Lorde Henry Wotton, Ben Chaplin como Basil Hallward e Rachel Hurd-Wood como Sibyl Vane.
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